Aos 46 anos, índio do Mato Grosso do Sul conclui graduação em museologia

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DEDICAÇÃO O índio Ricardo dedicou quatro anos aos estudos à distância e fez graduação em Museologia. "Uma conquista enorme”, disse ele à reportagem. (Foto: Divulgação)

GRADUADO Representante da tribo Terena pretende desenvolver amplo trabalho de valorização da cultura indígena após 4 anos de graduação

” Hoje, levanto as mãos para o céu e agradeço ao criador”. É com este sentimento que Ricardo Alexandre Silva Godói Terena, ou simplesmente Ricardo Terena, expressa a satisfação de ter concluído o ensino superior. Aos 46 anos, o indígena se formou em museologia em curso a distância no Centro Universitário Claretiano, campus de Araçatuba.

A formação representou uma conquista para este araçatubense que, dentre tantas adversidades a superar, chegou a passar fome. Com o objetivo de vencer as dificuldades financeiras, sua família – os avós, pais, tios e duas irmãs – deixou a aldeia Bananal, no Mato Grosso do Sul, com destino a Araçatuba na década de 1970.

Logo, todos se instalaram na rua Marcílio Dias, em um terreno onde construíram uma mini-aldeia. Eram pequenas ocas construídas próximas à linha férrea. A família mora no mesmo endereço até os dias atuais, mas, com a evolução do tempo e as melhoras nas condições de vida, a estrutura mudou.

Ricardo atribui a realização do sonho à dedicação de seus pais, Oscar e Roseli. Apesar das dificuldades, eles queriam que o filho estudasse. “Diziam que, se eu voltasse para a aldeia, perderia o ano letivo. Então, só íamos para lá em período de férias”, conta Terena.

Em sua vida escolar, Ricardo estudou em duas instituições públicas de ensino: Maria Balthazar Poço e Darcy Fontannelle. Mas, ao concluir o ensino médio, Terena esperou para correr atrás de seu sonho. Investiu na formação de sua filha, Danielle, hoje com 24 anos. Fruto de seu casamento com Marilene, 43, Danielle se formou em Pedagogia.

VOCAÇÃO

Terena se interessou pela museologia a partir de uma palestra que assistiu em 2017: “Museus indígenas e comunidade”. Desde então, trabalha para conquistar espaço nessa área e troca de ramo. Para sustentar a família e bancar os estudos, ele trabalha de corretor imobiliário.

Prestes a pegar o diploma de museólogo, Terena tem muitos planos. O principal deles é desenvolver um amplo trabalho de valorização da cultura indígena na cidade. “Araçatuba foi construída em cima de chacinaindígena. Então, é importante destacar que a história de Araçatuba não começa a partir dos trilhos da antiga ferrovia”, diz ele, referindo-se aos caingangues, os primeiros povos que habitaram em Araçatuba.

Entre seus projetos, estão ações educativas no Museu Histórico Marechal Cândido Rondon, que possui um amplo acervo indígena. Para isso, além da faculdade, Terena fez vários cursos. Aprendeu informática e fez cursos especializados nas áreas de Elaboração de Projetos em Museologia, Gestão de Coleção de Acervos e Acervos Tangíveis. Seu TCC (Trabalho de Conclusão de e Curso) teve como tema: “Projeto de Fundação de Museus”.

AÇÕES Ainda com o intuito de valorização da cultura indígena, Terena faz apresentações de música típica. Além disso, criou e preside, há cinco anos, a Associação Indigenista de Araçatuba e Região. Ocupando uma das casas da antiga vila ferroviária, a entidade acolhe índios que vêm para a cidade vendem artesanato próximo ao camelódromo de Araçatuba. “Precisamos cuidar de um grande patrimônio indígena de nossa cidade”, finaliza

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