Dar voz aos grupos indígenas para eles contarem sua própria história. Esse é o propósito da exposição Resistência Já! Fortalecimento e União das Culturas Indígenas – Kaingang, Guarani Nhandewa e Terena, realizada pelo Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP. Os grupos indígenas participaram do processo de curadoria da exposição, escolhendo objetos, vestimentas e fotografias capazes de contar sua história e tradição ao público.
A exposição teve início em 15 de março e a inauguração de sua terceira etapa, destacando os índios terena, ocorreu na última sexta-feira, dia 28 de junho, às 14 horas. Durante a inauguração, o evento contou com a participação de cerca de 70 índios terena, que realizaram uma apresentação de dança e venda de artesanato, além de estarem presentes para explicar a exposição.
Marília Xavier Cury, professora do MAE, é coordenadora da exposição e trabalha com os grupos indígenas kaingang, guarani nhandewa e terena desde 2010.
Os terena
“Resistir para não morrer. Vamos em frente!” é a frase que abre a parte da exposição sobre os terena. Assim como os kaingang e os guarani nhandewa, os índios terena se localizam no centro-oeste do Estado de São Paulo, na região de Icatu. Para chegar a esse local, eles tiveram que percorrer um longo caminho, desde o chaco paraguaio, seu local de origem.
“A partir do século 19, com o processo de colonização, um grupo se deslocou para o Brasil e parte dele foi para o interior de São Paulo, para ajudar no cultivo da terra”, conta a professora Marília.
Na exposição, os terena participaram de todos os processos: a escolha dos objetos que seriam expostos, a produção dos textos que acompanham as peças e até a seleção das cores da parede do espaço de exposição do grupo. A cor é um vermelho terroso, que representa a importância da cerâmica na tradição terena.
Uma das peças mais imponentes da exposição é uma vestimenta utilizada na dança típica terena, chamada hyokena kipâe. A roupa é um conjunto com saia, cocar, braçadeiras e tornozeleiras feitas com pena de ema, animal sagrado para o grupo, e tem mais de 100 anos. O verdadeiro significado por trás da vestimenta foi descoberto apenas quando os índios terena vieram até o MAE para realização da curadoria.
“Quando se depararam com a peça, eles tiraram o boné em sinal de respeito, alguns mais velhos choraram de emoção. Foi assim que notamos o valor da roupa para a cultura do grupo”, comenta a coordenadora.
Além de trazer peças ancestrais guardados no acervo do MAE, a exposição também apresenta objetos do cotidiano atual dos índios terena. Por exemplo, o terena Rodrigues Pedro deu para o museu uma faixa de algodão, que utilizava nas costas para trabalhar e prevenir a dor. A faixa foi feita por sua mãe, Maria Leocádia Cipriano..
Descolonização e visibilidade
A exposição foi criada através de uma produção entre a professora, uma equipe formada pelos pesquisadores Carla Gibertoni Carneiro, Maurício André da Silva e Viviane Wemelinger Guimarães e os grupos indígenas.
O objetivo do projeto é descolonizar os museus, trazendo novas perspectivas, diferentes das visões colonialistas predominantes, ao museu e à Universidade. Além disso, também visa a promover a visibilidade dos indígenas em São Paulo, dizimados pela colonização e muitas vezes ignorados pelo governo.
“Eles precisam dessa ancestralidade para manter suas culturas vivas, fortes e resistentes”, ressalta a professora Marília, referindo-se aos grupos indígenas. “É isso que vai garantir sua continuidade, seu futuro e seus direitos, o que também estamos reforçando aqui.”.
Com informções Jornal USP