Dirigentes da seleção Indígena de Futebol visita Funai em Brasília e ganha apoio do Presidente

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Reunião dos dirigentes da Seleção Indígena de Futebol com o presidente da Funai, Franklimberg de Freitas [ao centro de óculos] (foto: Mário Vilela)

“O futebol é o momento de construir a paz, uma paz que a gente precisa”, disse o técnico da recém-fundada Seleção Indígena de Futebol do Brasil e das Américas (SIFBA), José Geraldo Tremembé. Dirigentes da seleção se reuniram com o presidente da Funai, Franklimberg de Freitas, na sede da Fundação em Brasília-DF.

A visita à Funai aconteceu no dia 16 de maio, mas os dirigentes da Seleção Indígena de Futebol retornaram à capital federal no dia 21 para se reunirem com a Secretaria Nacional de Futebol e Direitos do Torcedor, do Ministério do Esporte. Em carta apresentada aos órgãos federais, o presidente da SIFBA, Vilson Francisco Terena, afirma que o “objetivo da seleção é a busca de autonomia própria, no campo da política esportivo indígena (…) a favor dos atletas indígenas das seleções de futebol masculina e feminina”.

Conforme explica Vilson Terena, as reuniões com o presidente da Funai, Franklimberg de Freitas, e com o secretário Nacional de Futebol, Ronaldo Lima, visam à “organização do primeiro torneio internacional de seleções indígenas, que provavelmente será realizado em São Gabriel da Cachoeira-AM nos meses de outubro ou novembro deste ano. Os protagonistas serão os povos indígenas”, salienta o presidente da SIFBA. Para o torneiro serão convidadas seleções indígenas da Colômbia, Venezuela e Peru.

Esporte democrático

Também está prevista a promoção de torneios para mulheres indígenas que praticam o esporte. De acordo com Vilson Terena, “outros eventos serão realizados conjuntamente pela seleção masculina indígena e a seleção feminina indígena, pela qual existem pessoas responsáveis: as indígenas Marinildes Pires Kariri-Xocó e Ayri Gavião, que irão coordenar a formalização e a convocação da seleção indígena feminina”, destaca.

Em relação à primeira convocação da seleção masculina, os dirigentes optaram por Brasília ser a sede da concentração da equipe, antes do torneiro internacional. “Nós teremos provavelmente um apoio do Exército. E estamos dialogando com várias instituições juntamente com a Presidência da República, a Funai e a Secretaria Nacional de Futebol”, ressalta Vilson Terena.

Durante entrevista na Assessoria de Comunicação Social da Funai, os dirigentes da Seleção Indígena apresentaram o potencial de integração da modalidade, que é praticada em todas as aldeias indígenas espalhadas pelo país. “A gente reconhece que o futebol é um esporte universal. Chega até nos indígenas semi-isolados, e principalmente os indígenas que estão integrados com a sociedade envolvente. Em cada aldeia existe um time indígena, mesmo jogando com a maior dificuldade, sem chuteiras”, afirma Vilson Terena.

A iniciativa de se constituir uma seleção com integrantes indígenas partiu de representantes dos povos Terena, Tukano, Tremenbé, Xerente, Kariri-Xocó, Mainaku e Gavião. Fundada em 26 de outubro de 2018 na Reserva Indígena Kariri-Xocó, Distrito Federal, a Seleção Indígena obteve o registro oficial do 1º Ofício de Registro Civil no dia 14 de dezembro do mesmo ano.

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Matheus Yuk Terena, 19 anos, meio de campo do Team Brazucas Soccer, concorre a uma bolsa de intercambio esportivo em universidades dos EUA

 

Para comandar a primeira seleção de indígenas do Brasil, a SIFBA não vai brincar em serviço: à frente da equipe vai estar o técnico José Geraldo Tremembé. Integrante da delegação que esteve em Brasília, ele tem formação técnica pelo Sindicato dos Técnicos do Rio Grande do Sul, o mesmo por onde passou o campeão do mundo pela Seleção Canarinho em 2002, Felipe Scolari. “O Brasil todo é apaixonado por futebol, não é diferente com os índios”, comenta o técnico indígena.

“Nos próximos dias, vamos formalizar os clubes da comunidade Tucana nos cartórios de registro. E a Seleção Indígena vai apoiar esse procedimento em todos os lugares do Brasil onde houver interesse por parte das etnias. Já temos este compromisso lá no Amazonas, e faremos também no Maranhão, na Ilha do Bananal (Tocantins), Mato Grosso do Sul e Rondônia”, revela Geraldo Tremembé.

 

Mais do que futebol

 

Álvaro Fernandes Tucano é um dos conselheiros da SIFBA. Em uma coerente reflexão sobre cidadania ligada à prática do esporte, ele diz que o torneio internacional das seleções indígenas significa mais que uma apresentação esportiva. “Nós vamos trazer também nossas culturas. Em São Gabriel da Cachoeira são 23 povos, então se fala 23 línguas apesar das fronteiras impostas entre venezuelanos, brasileiros, colombianos. Mas existe uma cadeia cultural de nossa parte porque nós falamos nossas línguas e temos nossos cunhados, e isso simboliza a união de nossas famílias, a integração latino-americana”.

Na avaliação de Álvaro Tucano, o potencial turístico da região também transmite uma mensagem importante. “Ao mesmo tempo a região é muito linda. E o mundo que nós precisamos é de água limpa. Então tudo isso depende da nossa capacidade. Nós daremos uma visão clara dos índios que nos representam nesse país, e dizer que somos muito solidários com coisas ruins que muitos parentes sofrem. Sem dúvidas, nós daremos uma mensagem para o Brasil e para o mundo para termos um mundo fraterno. É isso que nos interessa dizer”, declara.

Ao explicar o significado do escudo da Seleção Indígena de Futebol, Vilson Terena completa com outra mensagem de solidariedade de que “a Seleção Indígena vai levar através do esporte. Você vê no nosso escudo aquele desenho de cocar: é um uso tradicional dos povos originários. Essa árvore: nós estamos levando uma mensagem de preservação de biodiversidade. A água: a água é vida. Esse marrom é o fortalecimento das Terras Indígenas. Essa é a mensagem que nós estamos levando: o fortalecimento dos Povos Indígenas”, finaliza.

 

Diretoria da SIFBA

Presidente: Vilson Francisco Terena

Primeiro ministro e técnico da seleção indígena: José Geraldo Forte Tremembé

Secretário-geral: Newton Marcos Galache Terena

Conselheiros: David de Oliveira Terena e Álvaro Fernandes Tucano

Coordenadoras da seleção feminina: Marinildes Pires Kariri-Xocó e Ayri Gavião

Assessoria de Imprensa: Eliaquim Terena

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