Após 34 anos de docência, professor indígena se aposenta e deixa legado

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Foi publicada no diário oficial do Município de Sidrolândia nesta segunda-feira(13) a portaria nº 050/2017 pelo Previlândia (Instituto Municipal de Previdência Social) concedendo aposentaria voluntária por tempo de contribuição ao Professor Eliseu Gabriel.

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Profº Eliseu Gabriel e seus estudantes

Professor Eliseu Gabriel, 62 anos, indígena terena, exerceu sua profissão 34 anos lecionando aos indígenas da Aldeia Córrego do Meio e adjacências na escola hoje denominada Indígena Cacique Armando Gabriel.

Ele lembra do inicio da educação escolar indígena na década de 80 quando foi chamado para dar aula na Aldeia Córrego do Meio, quando tinha apenas o 1º grau completo. Foi o primeiro a ser contratado pela prefeitura de Sidrolândia para lecionar na escola Joaquim Teófilo (Extensão da escola rural Arany Barcelos)  num prédio construído pela Funai (Fundação Nacional do Indio) e que a partir daquele momento dava o ponta pé inicial ao desenvolvimento da comunidade indígena através da educação.

Antes disso, no ano de 1978, professor Eliseu trabalhou na fazenda furnas da estrela, com 32 estudantes, na época município de Anastácio. Dona Celina preocupada com a educação dos filhos de seus empregados contratou o indígena para então lecionar à eles.

Professor Eliseu lembra destes anos que iniciaram a educação escolar indígena e cita a dificuldade que enfrentou junto com a esposa Solange que era zeladeira e merendeira ao mesmo tempo e que ele trabalhava o dia inteiro com turmas multisseriada.

“Naquele tempo não tinha água encanada, tínhamos que buscar no rio para os alunos beber, fazer a merenda e limpar as salas. Eu e minha esposa fazia isso. Não tínhamos energia elétrica. Tudo era difícil. Hoje vejo o progresso da nossa aldeia a chegada da tecnologia. Tudo mudou. Agora tô na arquibancada torcendo por todos os nossos colegas professores e que continuam firme nesta labuta, vencendo obstáculos e ajudando a nossa comunidade”. comentou o professor.

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Professor Eliseu Gabriel e equipe do MEC

“Estou feliz, cumpri com zelo a minha profissão, foram 34 anos de muitos desafios. Agora deixo pra vocês. Continuem levando o conhecimento as nossas crianças indígenas porque a educação transforma a vida das pessoas.” disse o professor. 

E ainda citou o versículo: “Finalmente, irmãos, tudo o que for verdadeiro, tudo o que for nobre, tudo o que for correto, tudo o que for puro, tudo o que for amável, tudo o que for de boa fama, se houver algo de excelente ou digno de louvor, pensem nessas coisas.”Filipenses 4:8

O Professor disse que agora quer cuidar da família, dar mais atenção a suas netas e neto e descansar, mas enfatizou que  quer evangelizar as pessoas, seu objetivo agora é pregar a palavra de Deus a todos que ainda precisam ouvir da salvação gratuita e   citou o versículo bíblico que diz que o mundo está cambaleando como um bêbado e que balança como uma cabana ao vento (Isaías 24:20). “Para isso as pessoas precisam receber o plano da salvação”, finalizou.

É visível o grande trabalho desenvolvido pelo professor. Foram muitos estudantes, na verdade a grande maioria, (inclusive eu, que escrevo esta matéria) passaram pelos ensinamentos deste professor que hoje são pessoas formadas exercendo suas respectivas profissões.

Exemplo disso, temos o advogado indígena, Dr. Fernando Mamedes que hoje trabalha na assessoria do Dsei/MS (Distrito Sanitário Especial Indígena de Mato Grosso do Sul) representando com afinco as suas responsabilidades.

Hoje a aldeia dispunha de muitos profissionais como: pedagogos, biólogos, geógrafos, historiadores, Linguistas, matemáticos, filósofos, especialistas, mestres, enfermeiros, assistentes sociais, fisioterapeutas, advogados, administradores, psicólogos, tecnólogos de informação e outros que graças a bravura e o incentivo do professor conseguiram alcançar seus sonhos.

 

Histórico

Eliseu Gabriel, indígena, professor, presbítero, locutor de rádio, nascido em 17 de Junho de 1955,  filho de Armando Gabriel (in memorian) e Teadora Sol (In memorian). Tem dois irmãos, Gervasio Gabriel (in memorian) e Evilásio Gabriel e duas irmãs, Iracema Gabriel e Ziza Gabriel.

Casado com Solange Silva Gabriel, teve cinco filhos, Elizaine Gabriel (Licenciada em Matemática), Jesilaine Gabriel (In memorian), Gildson Silva Gabriel (Licenciado em Letras), Gedilson Silva Gabriel (Administrador) e Eliseu Gabriel Junior (Enfermeiro padrão). Legado deixado aos seus filhos.

Professor Eliseu Gabriel explana com detalhes o processo educacional na comunidade indígena Terra Buriti, aldeia Córrego do Meio.

1978 – Trabalhou como professor na fazenda furnas da estrela.

1982- Iniciou sua profissão na sala Joaquim Teófilo (1ª série à ª Série) (nome em homenagem a um dos primeiros cacique da Aldeia). Esta sala era vinculada a escola Arany Barcelos do Município de Sidrolândia).

Na década de 90 estudou Pedagogia e ainda fez concurso e passou em primeiro lugar.

Ainda na década de 90 incentivou seus estudantes, após terminar a 5ª série, a ir estudar em Sidrolândia. Uns foram e alugaram casas na cidade e depois houve transporte, na época caminhão e logo após ônibus.

1996/1997 – Participou efetivamente da criação da Escola Cacique Armando Gabriel Polo, nome em homenagem a seu pai, Armando Gabriel, que foi cacique durante 36 anos. , a escola pretendia atender estudantes do 1ª série à 4ª série.

2000 – Colaborou com a adequação para que a escola cacique Armando Gabriel atendesse da 5ª série à 8ª série.

2003 – Viu um dos seus sonhos sendo realizado a construção da escola Cacique Armando Gabriel, antes trabalhava numa escola construída de madeira.

2003/2004 – Aplaudiu os universitários indígenas da Aldeia Córrego do Meio quando formaram em diversas áreas da docência (Letras, Geografia, Biologia, Matemática, História).

2006 – Incentivou e colaborou com a criação da escola de Ensino Médio denominada Professor Lúcio Dias (em homenagem ao Professor indígena da Funai).

2017 – Aposenta deixando legado a comunidade indígena.

 

 

Gildson Gabriel/Rádio Terena

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